Nenhum tiro disparado nem uso de violência. Cerca de R$ 164 milhões roubados. Assim foi o maior assalto a banco da história do Brasil, o segundo maior do mundo. Uma história intrigante como essa poderia facilmente ter saído do roteiro de um filme ou de um livro. Mas, surpreendentemente, o fato fez o caminho inverso: saiu da realidade para ganhar livrarias e telas de cinema. O longa Assalto ao Banco Central, que estreia nesta sexta em todo o país, foi inspirado no assalto à sede do BC em Fortaleza, em agosto de 2005.
“A história, por si só, é sensacional. Se não fosse baseada em fatos reais, se fosse uma obra de ficção pura, iam dizer que era irreal demais, hollywoodiana demais para um filme brasileiro. Nesse aspecto, agradeço aos bandidos por terem tornado essa trama um pouco mais crível. O que me motivou a escrever o roteiro foi exatamente isso: a suposta discrepância entre a ousadia do plano e o fato de ter sido realizado por bandidos comuns brasileiros. Desde o começo, norteei-me por duas perguntas-chaves: quem são essas pessoas? Como elas planejaram e executaram um crime tão sofisticado?”, resume o roteirista Renê Belmonte. Ele acaba de lançar o livro homônimo, escrito em parceria com o ex-policial J. Monteiro.
A trama tem início quando Barão (Milhem Cortaz) recebe de um figurão do crime organizado a proposta tentadora de realizar o maior assalto da história do país. Ao lado de Carla (Hermila Guedes), ele começa a recrutar ajudantes para executar a desafiadora missão.
Nascido em Fortaleza, o ator Gero Camilo, intérprete de Tatu, um bandido especialista em túneis, lembra que, na época do roubo, tentava imaginar como a quadrilha teria cavado um buraco com tamanha artimanha. “Sempre passei naquela região onde fica o BC e me intrigou muito tudo aquilo, a estratégia usada pelos bandidos. Era surreal demais, prato cheio para os atores”, lembra.
Se interpretar um bandido não foi novidade para Gero, Giulia Gam está radiante com a primeira policial de sua carreira. Na pele da investigadora Telma, a atriz não esconde a empolgação com o processo de construção do papel, acompanhado de perto por agentes da Polícia Federal. “Fomos à sede da PF, eles nos deram consultoria. Adorei, a história é arrebatadora. O mais divertido foi atuar ao lado de todos os homens dando tiros. Brinquei de menino, mesmo”, comenta.
Liberdade
Apesar de cenas do filme e do livro terem se inspirado no assalto real, Renê Belmonte explica que são pura ficção os personagens, motivações e a maneira como eles interagem. “Era importante ter essa liberdade para que não ficasse com cara de documentário. A dramaturgia era mais importante. Nesse sentido, dei preferência a personagens que existiam na minha cabeça, em vez de me inspirar nos reais. Nem tive contato com os suspeitos, mas com pessoas da Polícia Federal e executivos do Banco Central. Isso, depois de escrever o roteiro. Mais para garantir que a história fosse o mais fiel possível aos fatos”, justifica.
Assalto ao Banco Central marca a estreia de Marcos Paulo, ator e diretor de TV, como cineasta. Para Giulia Gam, a maneira como ele se envolveu com o projeto e mobilizou a equipe foi fundamental para o êxito do longa. “Mesmo com 40 anos de TV, o Marcos soube muito bem que estava diante de um desafio diferente. Era cinema e o resultado ficou maravilhoso”, opina.
A gama de possibilidades dos personagens motivou Gero a aceitar o papel. Como se trata de um filme que fala de estratégia – e não há interação direta entre criminosos e polícia –, a construção da relação entre os envolvidos no assalto foi um dos aspectos mais interessantes. “Eles conviveram três meses dentro de uma casa arquitetando o crime. Tudo que se passa ali naquele confinamento, as tensões, as conversas, as brigas, os conflitos internos, foi muito desafiador. Tentamos fugir do estereótipo do bandido e isso ampliou as nossas possibilidades. O público vai perceber” isso, acredita o ator.
O elenco traz também Lima Duarte, Eriberto Leão, Heitor Martinez, Vinícius de Oliveira e Juliano Cazarré, além de participações especiais de Cássio Gabus Mendes, Daniel Filho, Milton Gonçalves e Antônio Abujamra.
Os dois lados
filme e vida real nem sempre se encontram:
realidade
• Segundo a Polícia Federal, as notas roubadas no Banco Central pesariam cerca de 3,5t.
• O túnel tinha 70cm de altura e era quase completamente revestido de lona. De quebra, contava com refrigeração, além da luz elétrica.
• Já foram presas várias pessoas sob acusação de participação no assalto. Acredita-se que muitas outras ainda estejam em liberdade.
• A investigação foi chefiada pela Polícia Federal, mas
sua condução teve participação importante das polícias Civil e Militar do Ceará e de outros estados, e até mesmo do Corpo de Bombeiros, envolvendo
dezenas de investigadores.
Ficção
• O “olhômetro” do espectador informa que os ladrões embarcam em suas vãs apenas algumas centenas de quilos de dinheiro, não toneladas.
• O túnel é baixo o suficiente para os atores precisarem se curvar, mas alto o suficiente para que a câmera possa filmá-los. Transpiração abundante é bom elemento dramático.
• Os criminosos são apenas 13. Tirando os que apenas administram o processo ou cuidam de sua logística, é pouca gente para quase 80 metros de túnel.
• A investigação é praticamente monopolizada pela Polícia Federal, concentrada praticamente nas mãos de dois investigadores: Chico Amorim (Lima Duarte) e
Telma Monteiro (Giulia Gam).
Entenda o caso:
O assalto ao Banco Central de Fortaleza, entre 5 e 7 de agosto de 2005, é considerado o maior roubo a banco da história do Brasil. Os ladrões alugaram uma casa próxima à sede do BC na capital cearense e chegaram ao cofre por meio de um túnel. A estrutura contava com sistema de iluminação elétrica e até ventilação. Segundo a Polícia Federal, R$ 164,7 milhões foram roubados. Até hoje, foram recuperados cerca de R$ 50 milhões – R$ 30 milhões em bens. A primeira parte, 50 dias depois do crime, na casa de um dos suspeitos. A investigação levou à prisão de cerca de 120 pessoas, 37 envolvidas diretamente com o roubo. Um dos presos é Antonio Argeu, ex-prefeito de Boa Viagem, no interior cearense, acusado de financiar a execução do roubo com R$ 100 mil.
Lá em londres...
O maior assalto do mundo ocorreu em julho de 1987, quando uma quadrilha atacou um depósito em Knightsbridge, no Centro de Londres, levando 40 milhões de libras (US$ 72 milhões).
“A história, por si só, é sensacional. Se não fosse baseada em fatos reais, se fosse uma obra de ficção pura, iam dizer que era irreal demais, hollywoodiana demais para um filme brasileiro. Nesse aspecto, agradeço aos bandidos por terem tornado essa trama um pouco mais crível. O que me motivou a escrever o roteiro foi exatamente isso: a suposta discrepância entre a ousadia do plano e o fato de ter sido realizado por bandidos comuns brasileiros. Desde o começo, norteei-me por duas perguntas-chaves: quem são essas pessoas? Como elas planejaram e executaram um crime tão sofisticado?”, resume o roteirista Renê Belmonte. Ele acaba de lançar o livro homônimo, escrito em parceria com o ex-policial J. Monteiro.
A trama tem início quando Barão (Milhem Cortaz) recebe de um figurão do crime organizado a proposta tentadora de realizar o maior assalto da história do país. Ao lado de Carla (Hermila Guedes), ele começa a recrutar ajudantes para executar a desafiadora missão.
Nascido em Fortaleza, o ator Gero Camilo, intérprete de Tatu, um bandido especialista em túneis, lembra que, na época do roubo, tentava imaginar como a quadrilha teria cavado um buraco com tamanha artimanha. “Sempre passei naquela região onde fica o BC e me intrigou muito tudo aquilo, a estratégia usada pelos bandidos. Era surreal demais, prato cheio para os atores”, lembra.
Se interpretar um bandido não foi novidade para Gero, Giulia Gam está radiante com a primeira policial de sua carreira. Na pele da investigadora Telma, a atriz não esconde a empolgação com o processo de construção do papel, acompanhado de perto por agentes da Polícia Federal. “Fomos à sede da PF, eles nos deram consultoria. Adorei, a história é arrebatadora. O mais divertido foi atuar ao lado de todos os homens dando tiros. Brinquei de menino, mesmo”, comenta.
Liberdade
Apesar de cenas do filme e do livro terem se inspirado no assalto real, Renê Belmonte explica que são pura ficção os personagens, motivações e a maneira como eles interagem. “Era importante ter essa liberdade para que não ficasse com cara de documentário. A dramaturgia era mais importante. Nesse sentido, dei preferência a personagens que existiam na minha cabeça, em vez de me inspirar nos reais. Nem tive contato com os suspeitos, mas com pessoas da Polícia Federal e executivos do Banco Central. Isso, depois de escrever o roteiro. Mais para garantir que a história fosse o mais fiel possível aos fatos”, justifica.
Assalto ao Banco Central marca a estreia de Marcos Paulo, ator e diretor de TV, como cineasta. Para Giulia Gam, a maneira como ele se envolveu com o projeto e mobilizou a equipe foi fundamental para o êxito do longa. “Mesmo com 40 anos de TV, o Marcos soube muito bem que estava diante de um desafio diferente. Era cinema e o resultado ficou maravilhoso”, opina.
A gama de possibilidades dos personagens motivou Gero a aceitar o papel. Como se trata de um filme que fala de estratégia – e não há interação direta entre criminosos e polícia –, a construção da relação entre os envolvidos no assalto foi um dos aspectos mais interessantes. “Eles conviveram três meses dentro de uma casa arquitetando o crime. Tudo que se passa ali naquele confinamento, as tensões, as conversas, as brigas, os conflitos internos, foi muito desafiador. Tentamos fugir do estereótipo do bandido e isso ampliou as nossas possibilidades. O público vai perceber” isso, acredita o ator.
O elenco traz também Lima Duarte, Eriberto Leão, Heitor Martinez, Vinícius de Oliveira e Juliano Cazarré, além de participações especiais de Cássio Gabus Mendes, Daniel Filho, Milton Gonçalves e Antônio Abujamra.
Os dois lados
filme e vida real nem sempre se encontram:
realidade
• Segundo a Polícia Federal, as notas roubadas no Banco Central pesariam cerca de 3,5t.
• O túnel tinha 70cm de altura e era quase completamente revestido de lona. De quebra, contava com refrigeração, além da luz elétrica.
• Já foram presas várias pessoas sob acusação de participação no assalto. Acredita-se que muitas outras ainda estejam em liberdade.
• A investigação foi chefiada pela Polícia Federal, mas
sua condução teve participação importante das polícias Civil e Militar do Ceará e de outros estados, e até mesmo do Corpo de Bombeiros, envolvendo
dezenas de investigadores.
Ficção
• O “olhômetro” do espectador informa que os ladrões embarcam em suas vãs apenas algumas centenas de quilos de dinheiro, não toneladas.
• O túnel é baixo o suficiente para os atores precisarem se curvar, mas alto o suficiente para que a câmera possa filmá-los. Transpiração abundante é bom elemento dramático.
• Os criminosos são apenas 13. Tirando os que apenas administram o processo ou cuidam de sua logística, é pouca gente para quase 80 metros de túnel.
• A investigação é praticamente monopolizada pela Polícia Federal, concentrada praticamente nas mãos de dois investigadores: Chico Amorim (Lima Duarte) e
Telma Monteiro (Giulia Gam).
Entenda o caso:
O assalto ao Banco Central de Fortaleza, entre 5 e 7 de agosto de 2005, é considerado o maior roubo a banco da história do Brasil. Os ladrões alugaram uma casa próxima à sede do BC na capital cearense e chegaram ao cofre por meio de um túnel. A estrutura contava com sistema de iluminação elétrica e até ventilação. Segundo a Polícia Federal, R$ 164,7 milhões foram roubados. Até hoje, foram recuperados cerca de R$ 50 milhões – R$ 30 milhões em bens. A primeira parte, 50 dias depois do crime, na casa de um dos suspeitos. A investigação levou à prisão de cerca de 120 pessoas, 37 envolvidas diretamente com o roubo. Um dos presos é Antonio Argeu, ex-prefeito de Boa Viagem, no interior cearense, acusado de financiar a execução do roubo com R$ 100 mil.
Lá em londres...
O maior assalto do mundo ocorreu em julho de 1987, quando uma quadrilha atacou um depósito em Knightsbridge, no Centro de Londres, levando 40 milhões de libras (US$ 72 milhões).
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